Meu pai vai fazer um procedimento cirúrgico.
Vai tirar umas velhas raízes de dentes encravadas que começaram a incomodar.
Pode parecer banal, mas o velho teve dois enfartes e tem 2 "molinhas" no peito, toma uma montanha de remédios e é o cara mais teimoso que eu já conheci, daqueles que podem dizer: "- Teimoso é quem tenta me convencer de alguma coisa..."
Já era pra ter feito esse procedimento há algum tempo, mas ele sempre dizia que não podia, que o médico disse que não podia, que a mãe do badanha tinha dito que não podia. E os dentes quebrando e as raízes encravando.
Até que (há males que vem pra bem) a cara dele inchou, metade do rosto doendo (e devia estar doendo bastante, porque ele pediu ajuda) e aceitou a sugestão de ir no plantão.
Isso (ir no plantão) é um inferno: ele tem plano de saúde partiucular, paga uma fortuna todo mês, e só vai quando a situação fica insuportável.
Desta vez estava. O médico tentou ajudar, prescrevendo alguns remédios que não causariam maior problemas a já enorme lista de medicamentos que ele toma. E também recomendou que a visita a um dentista era muito necessária.
Só assim ele aceitou.
Nos dois anos ou mais que ele começou a se queixar dos dentes, a simples idéia de visitar um dentista era rechaçada com gritos e discursos inflamados sobre "não poder, porque tenho problemas de coagulação!"
Até que não deu mais.
Até que não pode mais comer.
Até que não pode mais nem falar direito.
Por acaso, na mesma hora em que ele estava saindo do exame, um amigo meu, dentista experiente e competente, me ligou pedindo um apoio na avaliação de dois programas para o seu consultório.
Marcamos um horário no dia seguinte.
Sob protestos, meu pai foi de arrasto.
Boca (e o que restou dela) examinada, radiografia panorâmica feita, aguardamos alguns dias para o diagnóstico: fazer o procedimento no consultório ou baixar hospital e contactar um especialista em cirurgia buco-maxilo-facial?
Passaram-se os dias, e o o doutor me liga e avisa: "- Tá feio! Mas eu posso fazer. Só preciso conversar com o médico dele."
Mais alguns dias, e vem a liberação do cárdio.
Apesar de fraca, ainda há resistência. E protestos.
Mas hoje, acompanho ele ao consultório e vamos resolver esta parada.
E o velho vai me atazanar a vida por muitos anos ainda.
Simples.
Por uma questão de "macheza", muitos homens acabam morrendo simplesmente por achar que são indestrutíveis, que não são imunes a doenças e que só os outros ficam doentes e morrem.
Percebi isso no meu pai. Passou uma semana enfartado e não queria dar o braço a torcer.
Percebo isso em mim. Estou tentando arduamente mudar meu comportamento. É difícil.
Percebo isso pelos meus amigos: ninguém dá bola pra tontura, dor de barriga, sangue no nariz. Claro que quando estoura a bomba, todos vão atrás.
As mulheres, ao contrário, estão sempre em contato com médicos.
De todas as especialidades.
E sabem indicar um bom otorrinolaringologista que uma amiga comentou que é muito competente.
As mulheres tem uma agenda anual de consultas. E seguem a agenda. Como as estações do ano.
Inexoráveis.
E quando não conseguem fazer a consulta no dia correto, ficam perdidas e irritadas.
Voltando à "macheza", depois de muitos exames e controles descubro que:
Fanfarronada é dizer "- Nunca fico doente! Os médicos só querem o meu dinheiro e a indústria farmacêutica quer fazer testes comigo! E pegar o meu dinheiro" (já ouvi este tipo de disparate).
A razão disso é a estrutura de saúde do Brasil, que sempre foi uma porcaria e que botou na cabeça da minha geração (e na dos meus pais) que devemos procurar ajuda só no último momento.
Aí já é meio tarde.
Mas a gente acaba dando um jeito.
E pagando por isso.
Se serve de consolo, o que acontece aqui acontece no mundo todo.
Amanhã digo como foi.
Pode parecer banal, mas o velho teve dois enfartes e tem 2 "molinhas" no peito, toma uma montanha de remédios e é o cara mais teimoso que eu já conheci, daqueles que podem dizer: "- Teimoso é quem tenta me convencer de alguma coisa..."
Já era pra ter feito esse procedimento há algum tempo, mas ele sempre dizia que não podia, que o médico disse que não podia, que a mãe do badanha tinha dito que não podia. E os dentes quebrando e as raízes encravando.
Até que (há males que vem pra bem) a cara dele inchou, metade do rosto doendo (e devia estar doendo bastante, porque ele pediu ajuda) e aceitou a sugestão de ir no plantão.
Isso (ir no plantão) é um inferno: ele tem plano de saúde partiucular, paga uma fortuna todo mês, e só vai quando a situação fica insuportável.
Desta vez estava. O médico tentou ajudar, prescrevendo alguns remédios que não causariam maior problemas a já enorme lista de medicamentos que ele toma. E também recomendou que a visita a um dentista era muito necessária.
Só assim ele aceitou.
Nos dois anos ou mais que ele começou a se queixar dos dentes, a simples idéia de visitar um dentista era rechaçada com gritos e discursos inflamados sobre "não poder, porque tenho problemas de coagulação!"
Até que não deu mais.
Até que não pode mais comer.
Até que não pode mais nem falar direito.
Por acaso, na mesma hora em que ele estava saindo do exame, um amigo meu, dentista experiente e competente, me ligou pedindo um apoio na avaliação de dois programas para o seu consultório.
Marcamos um horário no dia seguinte.
Sob protestos, meu pai foi de arrasto.
Boca (e o que restou dela) examinada, radiografia panorâmica feita, aguardamos alguns dias para o diagnóstico: fazer o procedimento no consultório ou baixar hospital e contactar um especialista em cirurgia buco-maxilo-facial?
Passaram-se os dias, e o o doutor me liga e avisa: "- Tá feio! Mas eu posso fazer. Só preciso conversar com o médico dele."
Mais alguns dias, e vem a liberação do cárdio.
Apesar de fraca, ainda há resistência. E protestos.
Mas hoje, acompanho ele ao consultório e vamos resolver esta parada.
E o velho vai me atazanar a vida por muitos anos ainda.
-*-
Porque, depois de tanto tempo sem escrever, coloco este assunto familiar aqui?Simples.
Por uma questão de "macheza", muitos homens acabam morrendo simplesmente por achar que são indestrutíveis, que não são imunes a doenças e que só os outros ficam doentes e morrem.
Percebi isso no meu pai. Passou uma semana enfartado e não queria dar o braço a torcer.
Percebo isso em mim. Estou tentando arduamente mudar meu comportamento. É difícil.
Percebo isso pelos meus amigos: ninguém dá bola pra tontura, dor de barriga, sangue no nariz. Claro que quando estoura a bomba, todos vão atrás.
As mulheres, ao contrário, estão sempre em contato com médicos.
De todas as especialidades.
E sabem indicar um bom otorrinolaringologista que uma amiga comentou que é muito competente.
As mulheres tem uma agenda anual de consultas. E seguem a agenda. Como as estações do ano.
Inexoráveis.
E quando não conseguem fazer a consulta no dia correto, ficam perdidas e irritadas.
Voltando à "macheza", depois de muitos exames e controles descubro que:
- tenho asma (bronquite asmática conquistada através de 10 anos de fumante direto e 20 de fumante indireto) e preciso tomar uma medicação específica e tomar diversos cuidados
- tenho depressão (é, sou praticamente um doido de pedra) e preciso tomar uma medicação específica e tomar diversos cuidados
- tenho alguns problemas de retenção de líquido (aquele pé inchado que não cabe no sapato) e preciso tomar diversos cuidados e tomar um certo diurético quando a coisa complica
- tenho sobre-peso ("sobre-peso" é uma expressão bacana, usada pra te dizer algo como "- Bah! Meu! Mas tu tá gordo como um porco!" de forma educada) e preciso tomar diversos (e difíceis) cuidados
- ainda não tenho problemas circulatórios graves, mas devo pensar no futuro. Minha pressão está subindo.
- um dia terei que fazer o famigerado exame de próstata
- não sou o SuperMan que eu, meu pai e todos os homens pensam que são
- pela televisão, num comercial bem feito e muito sério, o governo federal está preocupado com a minha saúde e a minha longevidade. Por diversas razões. Dê uma espiadinha.
Fanfarronada é dizer "- Nunca fico doente! Os médicos só querem o meu dinheiro e a indústria farmacêutica quer fazer testes comigo! E pegar o meu dinheiro" (já ouvi este tipo de disparate).
A razão disso é a estrutura de saúde do Brasil, que sempre foi uma porcaria e que botou na cabeça da minha geração (e na dos meus pais) que devemos procurar ajuda só no último momento.
Aí já é meio tarde.
Mas a gente acaba dando um jeito.
E pagando por isso.
Se serve de consolo, o que acontece aqui acontece no mundo todo.
Amanhã digo como foi.
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